terça-feira, 15 de janeiro de 2008

À prova

Ele arriscou umas palavras, mas não sabia falar inglês. Tampouco sabia falar. Ao encarar aquele rosto pequeno ele engolia seco, agitava as mãos em pedido cego de socorro, enquanto seus olhos explodiam em aflições e angústias.

Para que palavras com tanto olhar?

A garotinha sorria e em cada sorriso um tempo que já foi. Cada som infantil uma marca do passado que ele não saberia reconhecer. Poderia usar discursos, poderia apoiar-se em grandes nomes. Sim, o presente é tudo o que temos. Diga isso cem vezes sem gaguejar e tente ser dono dessa verdade. Fora das duvidosas palavras do mundo, ele apenas sabia que sim, passado é real. Passado dói, transforma e não se altera.
Passeio no parque, coca-cola, picolé e aqueles bichinhos de pelúcia que colam no vidro... subterfúgios nulos, retirados como modelo de um filme com final feliz e que nunca se aplica.

E ele sabe. Mas ela não. Ela só sorri e estende os dedinhos minúsculos que mais cedo foram rabiscados de caneta colorida e agora apresentam riscos gastos e pouco visíveis. E ele continua engasgado sabendo que aquele desenho vivo ele jamais verá.

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