terça-feira, 21 de abril de 2009

Sem controle

Você está pensando o quê? É chegar, sentar, colocar os pés para o alto, acender seu cachimbo e vomitar baforadas no espelho julgando-se capaz de compreender tudo o que lhe cerca.
Enquanto as folhas levantam vôo logo ali você não sabe sequer quem lhe chegou por trás aplicando aquela peça, rasgando a lapela do seu casaco desajeitadamente enquanto tentou sussurrar-lhe um segredo.
Assim algumas palavras desconexas vagam até hoje na sua mente arriscando algumas relações improváveis, unindo-se, invertendo-se, divertindo-se.

É porque, dentre todas, é a mais bela, a mais forte, a mais segura que você tenta alcançar esticando-se na ponta dos pés denotando uma falta de prática patética diante de dez gargalhadas contidas.

Então, você está pensando o quê? Você não sabe mais o que fazer.

Ou nunca soube.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Seu moço

Ei, moço,
Você que chega a passos mansos envolto em trapos brancos meio rasgados, já suado em prantos soluçados. Coloca um pé à frente do outro sem métrica, sacode os bolsos com o movimento nervoso das mãos elétricas, tateia por um cigarro, encontra uma foto velha de sua amante histérica que em cantos melosos torneados por cílios postiços colocava-lhe as rédeas.

Ei, moço,
Aonde você vai agora? A chuva está mais forte e você caminha sem rumo, sem sorte, parece a cada dia despertar em busca da morte. E se ao norte sua forma se esvai e você ainda vagueia por entre brisas e poeira, sem esbarrar, sem descansar, sem desviar do rumo imaginário, me diga moço: onde encontra seu fim?

Pois eu aqui não sou ninguém, seu moço, mas me permita dizer-lhe poucas palavras tolas... Caso tudo isso lhe subir pela garganta, entenda que de nada adianta seus passos eternos para diante do ontem. Você apenas se põe a andar em círculos, pois é só o que sua mente conseguirá comandar. Então recolha seus joelhos batidos, seus ouvidos feridos de tanto silêncio e volte para dentro de si até a chuva passar.