segunda-feira, 6 de abril de 2009

Seu moço

Ei, moço,
Você que chega a passos mansos envolto em trapos brancos meio rasgados, já suado em prantos soluçados. Coloca um pé à frente do outro sem métrica, sacode os bolsos com o movimento nervoso das mãos elétricas, tateia por um cigarro, encontra uma foto velha de sua amante histérica que em cantos melosos torneados por cílios postiços colocava-lhe as rédeas.

Ei, moço,
Aonde você vai agora? A chuva está mais forte e você caminha sem rumo, sem sorte, parece a cada dia despertar em busca da morte. E se ao norte sua forma se esvai e você ainda vagueia por entre brisas e poeira, sem esbarrar, sem descansar, sem desviar do rumo imaginário, me diga moço: onde encontra seu fim?

Pois eu aqui não sou ninguém, seu moço, mas me permita dizer-lhe poucas palavras tolas... Caso tudo isso lhe subir pela garganta, entenda que de nada adianta seus passos eternos para diante do ontem. Você apenas se põe a andar em círculos, pois é só o que sua mente conseguirá comandar. Então recolha seus joelhos batidos, seus ouvidos feridos de tanto silêncio e volte para dentro de si até a chuva passar.

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