terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Idéia imediata

Quem diria que eu me encontraria hoje nesse corpo mirrado de fala resmungada e mente no repeat.

Assim estou. Sentado, sentindo e transpondo toda a minha velhice desde que desisti de caminhar para guardar as gotas de energia que a vida me dava em pingos miseráveis semanais... Os olhos parecendo não ver, talvez em protesto pela cegueira de uma geração.
Acomodo-me entre as tábuas com meus ossos que perderam a proteção e agora esperam a ordem para desmoronar. Mas eu não me importo porque não dói. Pelo contrário, sinto conforto na rigidez insegura da minha estrutura oca e faço pirraça me encurvando um pouco mais. Olho para os pombos com fome e para a mulher gorda que finge sofisticação. Se fosse para comer talvez ela fosse mais apetitosa, mas a questão toda é que eu prefiro os bichos mesmo.
Passa o jovem atlético correndo descompassado: é seu pescoço que virou para acompanhar o ritmo daquela colegial com quadris de criança. Meu ouvido peludo capta um choro de bebê que mais se assemelha a uma gata no cio e assim desperta minha fome novamente.

Talvez devesse tomar um café da manhã de vez em quando...

O fato é que não lembro de estar em outro lugar que não nesta praça de 5 metros de diâmetro em frente a uma igreja meio caipira que mais recebe famintos em busca de hóstia do que fiéis em busca de uma carreira de reza. E nessa onda de ficar sempre aqui esqueço a hora de ir.

Foi quando me deparei comigo de pé em um dia de garoa com sol porque não encontrava o banco. E nem a praça. Nem mesmo aquele cheiro agridoce de feijão com detergente da velha de muletas. Foi aí que lembrei de voltar.

Mas agora não me pergunte mais. Não lembro bem se voltei ou não.

Nenhum comentário: