quarta-feira, 25 de junho de 2025

Risco de giz

Ele corria tão rápido quanto seus pés conseguiam lidar, mais veloz que sua mente pudesse processar o movimento. E mesmo assim parecia não sair do mesmo lugar... E que lugar era esse? Espichava o olho aqui e ali e não conseguia distinguir, a respiração ritmada começava a dar sinais de exaustão, mas ele sentia que não podia parar. Ainda não chegava a hora. Ainda havia perigo.

Embora todas as moléculas do seu corpo enviassem mensagens de alerta, a mente não conseguia evitar a divagação. Por vezes se sentiu preso em uma sensação semelhante, mas naquele instante faltavam recursos para que ele pudesse completar o quebra-cabeça e, enfim, compreender o momento. Uma breve lembrança dolorida surgia de tempos em tempos, como um grito sem som, um gesto brusco vindo de um rosto sem forma. E o coração seguia acelerado, anunciando a urgência.

E mesmo assim, uma parte sua parecia parar. Simplesmente estancar no meio de toda aquela loucura e buscar um fiapo de memória, qualquer coisa que remontasse o cenário que insistia em se esvair, do qual suas pernas seguiam fugindo.

Lembrou do rosto dela, de lágrimas, muitas lágrimas. E vozes por trás de sua cabeça que justificavam aquela angústia, mas cujas palavras ele não sabia mais decifrar. Havia uma aura de agressividade, toda e qualquer vibração da qual ele sempre tentara fugir, mas que insistia em se manter por perto. De onde vinha?

Ele sabia de onde, mas não queria aceitar. Ou ainda não estava pronto a encarar. Afinal, tão logo a verdade crua se tornasse nítida em frente ao seu rosto ele não teria como evitar a resposta.

Então seguia correndo.

E correndo, por vezes lhe faltava motivo, força, coragem, clareza. Mas era um movimento mecânico que justificava toda a sua vida nos últimos quatro anos desde que tudo se desmanchou diante de seus olhos.

As lágrimas, os gritos, a sirene da viatura, as opiniões aqui e ali tão confusas. Ele apenas foi aceitando, na medida de suas possibilidades. E na esperança de que tudo ficasse para trás, foi silenciando cada respiro, cada olhar, cada toque.

Mas ainda seguia correndo.

Porque parar de correr significava abrir os olhos honestamente, aqueles que se fecharam com a promessa de um afeto velado. A verdade frágil e gelatinosa se dissolvia no veneno doce de cada dia, e ele queria, queria muito acreditar que seria suficiente.

Mas ainda precisava correr. E precisava se manter desperto... Medo do que afinal?

Além daqueles monstros e teorias fantasiosas que lhe foram apresentadas, nada mais restava além da lógica, do seu coração batendo, das suas pálpebras abrindo e fechando, dos seus dentes rangendo.

Cansado e com um ensaio de esperança, com um pedaço de giz riscou uma parede escura e marcou seu ponto de chegada.

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