sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ela fala com as flores

Apesar de o vento sul ter acordado naquela manhã com tanta vontade de ser, para um dia que começava assim meio cinzento era até estranho que ela estivesse tão feliz. Mas a paisagem que se formava diante da sua janela tinha algo de nostálgico. Na realidade uma sensação conhecida sobre algo que nunca fora vivido. Coisas de uma mente em constante reforma.
Assim, depois de tantos anos tendo rachaduras como vista, dando-se por satisfeita com os fragmentos de cal e gesso absorvidos durante as fungadas saídas dos lençóis, não esperava que algum dia seriam pintadas cabras ao fundo. Vejam só, cabras!

Desse jeito até poderia perdoar as esquisitices de um povo tão simplório. Talvez os caprinos fossem a moeda local.

Saindo cedinho reatava os laços com o sol, essa sua timidez própria dos dias frios lhe fazia sorrir mesmo antes de despertar completamente. Na mão direita um copo de café fervendo, na mão esquerda, atrapalhada, buscava os óculos escuros para poder olhar o céu. A promessa de passos mais lentos era derrubada pela urgência costumeira, despropositada porém. Enfim, algo teria que continuar no ritmo dos seus pensamentos, já que o equilíbrio se mostrava fundamental nesses últimos meses.

Cruzando com pássaros bem resolvidos e flores que alcançavam seu ombro, ela presta atenção nos detalhes. Apenas alguns naquele dia. Outros ficariam para os próximos, pois não era possível degustar tantos elementos sem evitar que seus sabores passassem informações equivocadas na mistura. Pouco antes de alcançar o bonde que perambula preguiçoso pela via principal, ela sente um perfume tão ou mais familiar que o cheirinho de creme de rosto da mãe. Pára um instante, segura a cena. Ao seu lado a chance de resgatar uma velha amizade. De ombros para o ridículo, ela não resiste:

- Bom dia, Sr. Girassol.

E seguiu caminho abafando um risinho infantil.

Um comentário:

Camila disse...

amei
demais mor
nossa
adorei
muito bom
lindos girassois que iluminarão os dias